Esculpir o tempo
O tempo é a matéria-prima deste espetáculo.
Há o tempo-memória. A memória do encontro de jovens estudantes de teatro com Zé Celso em 1995, em uma videoentrevista no parque do Ibirapuera. As memórias do Zé sobre As Três Irmãs de Tchekhov, em uma criação teatral radical do Teatro Oficina em 1972. Há alguns anos, quando resgatamos esse material, foi tocante descobrir que estas lembranças, de uma força atemporal, continuavam ali, eternizadas na precariedade de uma fita VHS.
Há o tempo das três irmãs, espaço mental que é simultaneamente refúgio e prisão: o sonho por um futuro grandioso que é a volta a um passado perdido. É a recusa do tempo presente, estando (onde mais?) no tempo presente. Aqui Olga, Macha e Irina são evocadas como um haicai, uma condensação poética e livre da peça de Tchekhov. Três atrizes de gerações distintas, três forças complementares e contrastantes, expandindo e embaralhando os tempos. Três mulheres – ou três tempos de uma mesma mulher – que vivem em um entretempo, cercadas por um mundo incompreensível, em intensa transformação.
E há o tempo da mente, indistinto, o movimento invisível do pensamento interferindo na ação. Eletrodos que em tempo real captam ondas cerebrais – pensamentos, emoções, estados meditativos – e as transformam em matéria teatral, impulsos elétricos que acionam uma instalação sonora e visual. Tornando visível um mundo invisível.
É também tempo de afirmar a urgência, a necessidade absoluta do teatro nestes tempos de desmontes e desumanização. O teatro pulsa no aqui agora, é a arte do encontro, da troca, do assombro, que nos permite simultaneamente arrebatamento e reflexão.
Como disse o mestre japonês Eihei Dogen (1200-1253), somos o tempo. Não há um tempo “fora” de nós. O tempo não passa, não foge, somos a existência-tempo. Não há existência fora do tempo, não existe tempo fora da existência. Coabitamos o tempo presente, este exato instante, que é também o eterno tempo do teatro, o tempo-teatro.
É uma grande alegria para nós esta temporada no Teatro Sérgio Cardoso aqui no Bixiga, bairro histórico do teatro paulista, celeiro de tantas manifestações culturais. Seguimos depois com Tchekhov é um Cogumelo para Portugal, onde nos apresentaremos no 42º FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica do Porto. Novos encontros, novas perspectivas, os pássaros voam! Evoé!
Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes
Premio APCA
Indicado a Melhor Espetáculo do Ano
Premio Shell
Indicado a Melhor Música
“Entre os 3 Melhores Espetáculos de 2017 da Cidade de São Paulo”.
Júri de Críticos, Folha de São Paulo
Tchekhov é um Cogumelo
Cenas:
Prólogo – Entretempo
PRIMEIRO MOVIMENTO
Cena 1 – Casa de memórias
Cena 2 – Amanhecer no vazio
Cena 3 – A celebração
Cena 4 – A tcheremcha é um vegetal
Cena 5 – Anúncio dos mascarados
Cena 6 – Eis uma piorra
SEGUNDO MOVIMENTO
Cena 7 – Samba russo
Cena 8 – Sobreposições noturnas
Cena 9 – Incêndio
Cena 10 – Silêncio de Gogol
TERCEIRO MOVIMENTO
Cena 11 – Adeus ao eco
Cena 12 – Invasão dos mascarados
Cena 13 – O voo dos pássaros migrantes
Ficha técnica
Direção, Concepção e Adaptação – ANDRÉ GUERREIRO LOPES
Texto – EXTRATOS DE “AS TRÊS IRMÃS” DE ANTON TCHEKHOV
Elenco – HELENA IGNEZ, DJIN SGANZERLA, MICHELE MATALON, SAMUEL KAVALERSKI, FERNANDO ROCHA E CLEBER D’NUNCIO
Cenário e Figurinos – SIMONE MINA
Direção Musical e Instalação Sonora – GREGORY SLIVAR
Iluminação – MARCELO LAZZARATTO
Assistente de Direção e Direção de Cena – RAFAEL BICUDO
Participação Especial – GRUPO EMBATUCADORES
Preparação de Canto e Músicas Tradicionais – ROBERTO MOURA
Produção Executiva – SANDRO RABELLO e FLANDIA MATTAR
Direção de Produção – DJIN SGANZERLA / MERCÚRIO PRODUÇÕES LTDA.
Visagista – PATRÍCIA BONÍSSIMA
Direção de Vídeo – ANDRÉ GUERREIRO LOPES
Operação de Luz – RICARDO BARBOSA
Operação de Som – RENATO GARCIA
Pós-produção e Operação de Vídeo – RICARDO BOTINI
Contrarregra – LARA GUTIERREZ
Assessoria de Imprensa – HELÔ CINTRA e DOUGLAS PICCHETTI – POMBO CORREIO
Mídias Sociais – TXAI FERRAZ e TOMAZ ALENCAR
Consultoria de Projeto – CRISTIANE CAVALCANTE
Assessoria Jurídica – OLIVIERI ASSOCIADOS
Fotos – Jennifer Glass e André Guerreiro Lopes
Arte Gráfica – Cacau Gondomar
Consultoria da Relação entre Neurocomputação e Performatividade – Gustavo Sol
Videoentrevista com Zé Celso, 1995 – André Guerreiro Lopes (câmera), Graziela Kunsch, Simone Kliass e Olga Maria
Assistente de Cenografia – Vinicius Cardoso
Assistente de Figurinos – Jemima Tuany
Cenotecnia – Renan SilvérIo e Wanderley Wagner Silva
Modelagem – Angela Yamashita, Fátima Castro Chagas
Confecção de Figurinos – Edmeia Evaristo, Augusta Castro Chagas
Músicas Tradicionais Cantadas:
STOMIO – canto cigano do leste europeu
RUMIANA – canção da Sérvia
JOVANKE – canção da Sérvia
LOUSSIN – canto tradicional Armenio
Idealização – Estúdio Lusco-fusco / www.luscofusco.art.br
NOSSOS ESPECIAIS AGRADECIMENTOS A:
Marcos Arzua Barbosa, Vanda Lima, Monique Gardenberg, José Fernando Sousa, Monja Coen Roshi, Facundo Guerra, Gustavo Sol, Bete Coelho, Fábio Delduque.